A
pera estava ali, num imobilizado exibicionismo, debruçada sobre a simplicidade
de despeitadas bananas. Ele havia esperado até aquele momento para colhê-la,
pois, ao contrário de ontem, ela se mostrava agora, desde um viçoso amarelo, que estava suficientemente madura para tornar-se definitivamente a
fruta que dela se espera, ao desaparecer por entre os lábios, a língua e os
dentes de um humano.
Após
a primeira mordida, ele não sentiu no paladar a suculenta areia adocicada no
que se transforma a carne de uma deliciosa pera madura. O gosto que lhe veio à
boca foi o de um desenxabido sabor.
Experimentou,
já desanimado pela frustração, mastigar um novo pedaço da pera, na esperança de
que pelo menos o outro lado da fruta, por alguma razão, tivesse amadurecido. O
mesmo gosto sem graça, o mesmo sabor de coisa nenhuma.
Olhou
para a pera com olhos de quem olha para algo que já perdeu seu valor e, sem nem
um outro sentimento além do de decepção, atirou-a no lixo.
Mal
acabou de ouvir o barulho surdo da pera caindo no fundo do cesto,
veio-lhe um pensamento perturbador. Tal como a pera, ele, àquela altura de sua
existência, possuía a vivência e a aparência de alguém de quem se diz ter alcançado
a tão ansiada maturidade. Seria isso mesmo verdade? Desde o seu ponto de vista,
tal possibilidade estava muito longe de ser confirmada. Seria mesmo o caso de,
segundo ele, em vez de jogar a pera sem graça, juntar-se a ela no mesmo salto
em direção à inutilidade do que um cesto de lixo ajunta.
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