sábado, 20 de julho de 2013

André de Leones à queima-roupa





ler? Imprescindível. Escritor que não lê é escritor morto. Mas, claro, ler é imprescindível não apenas para quem escreve. Ler é uma maneira de se conectar existencialmente e emocionalmente com o outro. Uma soma, uma relação que se estabelece, na medida em que a imaginação do outro, do autor, só se completa com a/na imaginação do leitor. Uma entrega mútua, portanto. Ler ainda é fazer com que sua vida interior não se restrinja às atividades de suas vísceras.

escrever? Existo também por aí, em escrevendo. É uma das maneiras que encontrei de experimentar a alteridade. A arte não é inútil. Não existe inutilidade na arte. Algo que coloque imaginações e vivências em contato direto não pode ser inútil.

ser lido? Escrevo para ser lido. Não faz sentido, para mim, colocar uma narrativa ou um poema de pé sem que, na outra ponta, haja alguém para ler. Não sei escrever cartas que não serão enviadas ou que, enviadas, não cheguem a destinatário algum.

criticar?  Escrevo resenhas. Não resenho livros dos quais não gostei. O espaço já é pequeno, não quero usá-lo com não-indicações de leitura. Prefiro comentar os livros que achei legais. É uma opção minha, evidentemente, e não acho "errado" quem critica negativamente um livro. O que considero uma filhadaputice, uma desonestidade, é quando o crítico, ao supostamente criticar uma obra, agride o autor, procura ridicularizá-lo. Mas aprendi algo: com as coisas que fazemos, nunca ridicularizamos ninguém; ridicularizamos, no máximo, a nós mesmos.

ser criticado? É legal quando a crítica, seja positiva ou negativa, é honesta e bem escrita. Quando é assim, ela ajuda inclusive a esclarecer coisas para mim. Quando se trata de um ataque gratuito, inconsequente, de uma molecagem, em suma, bem, é chato, claro, mas já não me importo tanto quanto me importava antes. É aquilo que escrevi no final da resposta anterior. E há os leitores que me enviam e-mails comentando meu romance ou algum texto publicado por aí. Nem sempre dizem coisas agradáveis, é claro, mas sempre procuro conversar. Quando se trata de leitores desarmados, por assim dizer, essas conversas sempre rendem bem, mesmo com pessoas que não apreciam o meu trabalho (mas estão dispostas a bater papo numa boa, sem agressões).



André de Leones é autor de Terra de casas vazias (romance, Rocco, 2013), Dentes negros (romance, Rocco, 2011), Como desaparecer completamente (romance, Rocco, 2010), Paz na terra entre os monstros (contos, Record, 2008) e Hoje está um dia morto (romance, Record, 2006), vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2005.

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