ler? Imprescindível. Escritor que não lê é
escritor morto. Mas, claro, ler é imprescindível não apenas para quem escreve.
Ler é uma maneira de se conectar existencialmente e emocionalmente com o outro.
Uma soma, uma relação que se estabelece, na medida em que a imaginação do
outro, do autor, só se completa com a/na imaginação do leitor. Uma entrega
mútua, portanto. Ler ainda é fazer com que sua vida interior não se restrinja
às atividades de suas vísceras.
escrever? Existo também por aí, em escrevendo. É
uma das maneiras que encontrei de experimentar a alteridade. A arte não é
inútil. Não existe inutilidade na arte. Algo que coloque imaginações e
vivências em contato direto não pode ser inútil.
ser lido? Escrevo para ser lido. Não faz
sentido, para mim, colocar uma narrativa ou um poema de pé sem que, na outra
ponta, haja alguém para ler. Não sei escrever cartas que não serão enviadas ou
que, enviadas, não cheguem a destinatário algum.
criticar? Escrevo resenhas. Não resenho
livros dos quais não gostei. O espaço já é pequeno, não quero usá-lo com
não-indicações de leitura. Prefiro comentar os livros que achei legais. É uma
opção minha, evidentemente, e não acho "errado" quem critica
negativamente um livro. O que considero uma filhadaputice, uma desonestidade, é
quando o crítico, ao supostamente criticar uma obra, agride o autor, procura
ridicularizá-lo. Mas aprendi algo: com as coisas que fazemos, nunca
ridicularizamos ninguém; ridicularizamos, no máximo, a nós mesmos.
ser criticado? É legal quando a crítica, seja
positiva ou negativa, é honesta e bem escrita. Quando é assim, ela ajuda
inclusive a esclarecer coisas para mim. Quando se trata de um ataque gratuito,
inconsequente, de uma molecagem, em suma, bem, é chato, claro, mas já não me
importo tanto quanto me importava antes. É aquilo que escrevi no final da
resposta anterior. E há os leitores que me enviam e-mails comentando meu
romance ou algum texto publicado por aí. Nem sempre dizem coisas agradáveis, é
claro, mas sempre procuro conversar. Quando se trata de leitores desarmados,
por assim dizer, essas conversas sempre rendem bem, mesmo com pessoas que não
apreciam o meu trabalho (mas estão dispostas a bater papo numa boa, sem
agressões).
André de Leones é autor de Terra de casas vazias (romance, Rocco, 2013), Dentes negros (romance, Rocco, 2011), Como desaparecer completamente (romance, Rocco, 2010), Paz na terra entre os monstros (contos, Record, 2008) e Hoje está um dia morto (romance, Record, 2006), vencedor
do Prêmio Sesc de Literatura 2005.
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