quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ana Elisa Ribeiro à queima-roupa



Era o ano de 2008. Eu morava na caliente Palmas, no Tocantins. Àquela época, eu me inventava tardiamente nesse negócio de escrever em blogue literário. O meu saudoso Bloco de notas é desse tempo... E, sim, claro, visitava outros blogues. Numa dessas fuçadas, encontrei um de uma pessoa muito especial. Tratava-se de uma bela mulher, que me chamou a atenção de imediato para as suas grossas sobrancelhas à maneira Frida Kahlo.
Lá estavam algumas fotos. Numa delas, ela com um bebê no colo. Um olhar distante da grande angular da câmera, e, particularmente sem sorrir, séria, sempre. Esse gesto tanto mais aumentava sua beleza e a minha curiosidade.
Com a ajuda do Mestre Google fui apresentado à escrita dessa mulher. No Digestivo Cultural, encontrei uma cronista de mão cheia! Textos deliciosamente escritos para deliciosamente serem lidos. Mas não pensem, por essa minha afirmação, que tais crônicas sejam um exercício edulcorado de se fazer literatura. Muito antes pelo contrário! São textos deliciosos de se ler, porque foram antes paridos na dor e no amor, e entregues ao leitor para um interpelador fruir de sua cotidiana e humana condição.
O tempo passou. E eis que reencontro essa mulher no Facebook. Timidamente, enviei a ela uma (sic) solicitação de amizade. Ela aceitou. Passei, então a conhecê-la um pouco mais. Hoje sei que aquele bebê que estava em seu colo se chama Dudu, e que, além de cronista, é também poeta, embora eu não conheça a sua poesia, além daquela incrustada em suas crônicas.
Convidei-a, então, para que respondesse a quatro perguntinhas singelas sobre seu exercício de escritora, aqui no Le mot juste. Ela gentilmente topou. E como um dínamo que é, não demorou nada em me enviar as respostas.
Conheçam, então, um pouco mais do que pensa sobre escrita e leitura, a minha amiga e colega de ofício, Ana Elisa Ribeiro.
Erre: Ana, o que significa para você o ato de ler?
Ana: Depois que você aprende, não tem mais volta. Ler é balístico. Você lê até sem querer, quando um texto passa diante dos seus olhos. Já a leitura literária, ah, essa aí precisa ser cultivada e querida. Uma pena, mas nem sempre é. Eu leio. De tudo. É um dos meus jeitos de respirar.
 Erre: E, em relação ao outro lado da moeda, o que é escrever?
Ana: Também respiro por aí. Não explodo porque escrevo. Você aprende isso e é como se pudesse voar e ser eterno. Também tem gente que não usa pra quase nada. Eu uso pra tudo nesta vida.
Erre: Agora uma pergunta mais capciosa, qual a sensação de ser lida?
Ana: Pode ser meio constrangedor. Pode ser meio sensual. Pode ser meio ofensivo. Quando vejo alguém lendo meus textos na minha frente eu disfarço certa timidez. Prefiro que leiam longe. Quando me dizem: “leio você no...”, eu fico que nem uma mãe-coruja ou que nem uma moça a quem arrancassem a roupa. Isso é parte de continuar lendo e escrevendo.
Erre: Ana, na literatura, há uma questão inescapável, a da crítica, o que é, para você, criticar uma obra?
Ana: Criticar os outros é fácil. Já nascemos sabendo. Basicamente, é porque fazem de um jeito que não faríamos. Ou nem isso. Às vezes nós não faríamos de jeito nenhum. Eu gosto mais de elogiar.
Erre: E ser criticada?
Ana: Não é fácil. Também não é comum. Pelo menos, não na lata, assim, cara a cara. Geralmente, as pessoas só abrem a boca pra falar que curtiram. É uma espécie de síndrome de Facebook – não tem botão de “não curti”. Mas quando criticam, peço que seja com jeitinho. Trabalho da gente detonado é tipo ouvir alguém falar mal da sua mãe. Ou do seu filho.

A outra Ana, sendo a mesma:
Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte, em 1975. É professora do CEFET-MG, onde atua no ensino médio, na graduação e na pós-graduação. É doutora em Linguística. Participa de várias coletâneas de poesia (Brasil, Portugal e México) e de contos, além de ler poesia em muitos eventos no Brasil.

Ana e sua obra, felizmente, incompleta:
Poesinha. BH: Poesia Orbital, 1997. [Poesia]
Perversa. SP: Ciência do Acidente, 2002. [Poesia]
Fresta por onde olhar. BH: InterDitado, 2008. [Poesia]
Sua mãe. BH: Autêntica, 2011. [Infantil]
Chicletes, Lambidinha & outras crônicas. Natal: Jovens Escribas, 2012. [Crônica]
Meus segredos com Capitu. Natal: Jovens Escribas, 2013. [Crônica]
Anzol de pescar infernos. SP: Patuá. A sair em 2013. [Poesia]

[Imagem: www.hojeemdia.com.br]

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