Era o ano de 2008. Eu morava na caliente
Palmas, no Tocantins. Àquela época, eu me inventava tardiamente nesse negócio
de escrever em blogue literário. O meu saudoso Bloco de notas é desse
tempo... E, sim, claro, visitava outros blogues. Numa dessas fuçadas, encontrei
um de uma pessoa muito especial. Tratava-se de uma bela mulher, que me chamou a
atenção de imediato para as suas grossas sobrancelhas à maneira Frida Kahlo.
Lá estavam algumas fotos. Numa delas, ela
com um bebê no colo. Um olhar distante da grande angular da câmera, e,
particularmente sem sorrir, séria, sempre. Esse gesto tanto mais aumentava sua
beleza e a minha curiosidade.
Com a ajuda do Mestre Google fui
apresentado à escrita dessa mulher. No Digestivo
Cultural, encontrei uma cronista de mão cheia! Textos deliciosamente
escritos para deliciosamente serem lidos. Mas não pensem, por essa minha
afirmação, que tais crônicas sejam um exercício edulcorado de se fazer
literatura. Muito antes pelo contrário! São textos deliciosos de se ler, porque
foram antes paridos na dor e no amor, e entregues ao leitor para um
interpelador fruir de sua cotidiana e humana condição.
O tempo passou. E eis que reencontro essa
mulher no Facebook. Timidamente, enviei a ela uma (sic)
solicitação de amizade. Ela aceitou. Passei, então a conhecê-la um pouco mais.
Hoje sei que aquele bebê que estava em seu colo se chama Dudu, e que, além de
cronista, é também poeta, embora eu não conheça a sua poesia, além daquela
incrustada em suas crônicas.
Convidei-a, então, para que respondesse a
quatro perguntinhas singelas sobre seu exercício de escritora, aqui no Le
mot juste. Ela gentilmente topou. E como um dínamo que é, não demorou nada
em me enviar as respostas.
Conheçam, então, um pouco mais do que pensa
sobre escrita e leitura, a minha amiga e colega de ofício, Ana Elisa Ribeiro.
Erre: Ana, o que significa
para você o ato de ler?
Ana: Depois que você
aprende, não tem mais volta. Ler é balístico. Você lê até sem querer, quando um
texto passa diante dos seus olhos. Já a leitura literária, ah, essa aí precisa
ser cultivada e querida. Uma pena, mas nem sempre é. Eu leio. De tudo. É um dos
meus jeitos de respirar.
Erre: E, em relação ao outro
lado da moeda, o que é escrever?
Ana: Também respiro por aí.
Não explodo porque escrevo. Você aprende isso e é como se pudesse voar e ser
eterno. Também tem gente que não usa pra quase nada. Eu uso pra tudo nesta
vida.
Erre: Agora uma pergunta mais
capciosa, qual a sensação de ser lida?
Ana: Pode ser meio
constrangedor. Pode ser meio sensual. Pode ser meio ofensivo. Quando vejo
alguém lendo meus textos na minha frente eu disfarço certa timidez. Prefiro que
leiam longe. Quando me dizem: “leio você no...”, eu fico que nem uma mãe-coruja
ou que nem uma moça a quem arrancassem a roupa. Isso é parte de continuar lendo
e escrevendo.
Erre: Ana, na literatura, há
uma questão inescapável, a da crítica, o que é, para você, criticar uma obra?
Ana: Criticar os outros é
fácil. Já nascemos sabendo. Basicamente, é porque fazem de um jeito que não
faríamos. Ou nem isso. Às vezes nós não faríamos de jeito nenhum. Eu gosto mais
de elogiar.
Erre: E ser criticada?
Ana: Não é fácil. Também não
é comum. Pelo menos, não na lata, assim, cara a cara. Geralmente, as pessoas só
abrem a boca pra falar que curtiram. É uma espécie de síndrome de Facebook –
não tem botão de “não curti”. Mas quando criticam, peço que seja com jeitinho.
Trabalho da gente detonado é tipo ouvir alguém falar mal da sua mãe. Ou do seu
filho.
A outra Ana, sendo a mesma:
Ana Elisa Ribeiro nasceu em Belo Horizonte,
em 1975. É professora do CEFET-MG, onde atua no ensino médio, na graduação e na
pós-graduação. É doutora em Linguística. Participa de várias coletâneas de
poesia (Brasil, Portugal e México) e de contos, além de ler poesia em muitos
eventos no Brasil.
Ana e sua obra, felizmente, incompleta:
Poesinha. BH: Poesia Orbital, 1997. [Poesia]
Perversa. SP: Ciência do Acidente, 2002. [Poesia]
Fresta por onde olhar. BH: InterDitado, 2008. [Poesia]
Sua mãe. BH: Autêntica, 2011. [Infantil]
Chicletes, Lambidinha & outras crônicas. Natal: Jovens
Escribas, 2012. [Crônica]
Meus segredos com Capitu. Natal: Jovens Escribas, 2013.
[Crônica]
Anzol de pescar infernos. SP: Patuá. A sair em 2013. [Poesia]
[Imagem: www.hojeemdia.com.br]
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