domingo, 1 de setembro de 2013

E a história começa – dez brilhantes inícios de clássicos da literatura universal, Amós Oz



Amós Oz faz uma curiosa apresentação de dez obras marcantes da literatura universal, a partir de como elas se apresentam como um “contrato inicial” entre o leitor e o autor, a partir de seus inícios, ou seja, de suas palavras introdutórias.
As obras que Amóz Oz elegeu para a sua arguta e criativa interpretação são as seguintes: Effi Briest, de Theodore Fontante; “Na flor da idade”, de S.Y. Agnon; “O nariz”, de Nicolai Gogol; “Um médico de aldeia”, de Franz Kafka; “O violino de Rothschild”, de Anton Tchekov; Mikdamot, de S. Yizhar; História: um romance, de Elsa Morante; O outono do patriarca, de Gabriel García Márquez; “Ninguém disse nada”, de Raymond Carver; “Um leopardo particular e muito apavorante”, de Yaakov Shabtai.
Obviamente que o autor só pode falar dos inícios das referidas obras porque as leu integralmente, e, com certeza, várias vezes. Em razão disso, ele nos ilude ao nos induzir a pensar que só o início da obra é suficiente para que o leitor se convença a lê-la.
Na realidade, penso que esse tal “contrato inicial” não se consuma a não ser que a obra seja lida em sua totalidade. Daí, sim, fará sentido crermos, como leitores, que, de fato, fomos convencidos desde as primeiras palavras de uma narrativa a percorrê-la em lento e degustativo caminhar.
Em outras palavras, o surpreendente ou convidativo início do relato só pode ser assim avaliado, se cotejado com seu trajeto posterior até o desfecho. De outro modo, seremos frustrados leitores de uma página só.
Na introdução, Amós Óz faz um lúdico exercício, dirigido, a meu ver, para escritores neófitos, sobre possibilidades de se iniciar uma narrativa: “Você tem vontade de escrever? ‘Shmuel ama Tsila’? Simplesmente siga adiante e escreva. Quer escrever ‘mas Tsila ama Gilbert’? Vá em frente. Deseja acrescentar ‘no entanto, Shmuel e Gilbert amam um ao outro’? Quem pode desmenti-lo? Quem pode aparecer e desafiá-lo com informações contraditórias ou com fontes que você talvez não tenha consultado?” (p. 7).
(Trad. Adriana Lisboa) (Ediouro)

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