domingo, 12 de maio de 2013

Carolina



 (primeiro)

Certa vez, um tio meu me disse que se Chico tivesse feito tão-somente Carolina não precisava ter feito mais nada. Concordei plenamente. Passei mesmo a ter essa assertiva como uma máxima definitiva.



(segundo)

Máxima... Definitiva... Anunciação... Epitáfio...



(terceiro)

Eu a ouvi zilhões de vezes... zilhões de vezes... Mas não a escutei... (Como era mesmo? ... nos seus olhos fundos guarda tanta dor/a dor de todo esse mundo...)



(quarto)

 Como eu poderia supor: naqueles olhinhos serelepes, (irrequietos, eu diria), poderia caber toda a dor desse mundo???



(quinto)

... Isso eu não vira... Não naqueles olhinhos tão donos de si e dos meusinhos... tão opacozinhos... Cego ficara?



(sexto)

Depois vim a saber (a mãe dela me disse, entre envergonhada e profética): “Ela era bipolar...”



(sétimo)

Daí eu a odiar tanto quando em sua fase eufórica (aquela roda de rapazes em torno de uma incontrolável gargalhada dotada de sabedoria montada às pressas).



(oitavo)

Daí eu amá-la tanto quando em sua fase melancólica (que tanto confundi com anseio por cuidado, zelo, carinho, amor (?), talvez (?))



(nono)

Terá sido porque eu tenha levado rosas?!



(décimo)

Não sei, só pude supor o fundo de seu vazio quando ela quis beber o todo das águas do mar de Mundaú



(décimo-primeiro)

e só pude imaginar o quanto ela fora vertida em lágrimas quando quis recuperar a si mesma num tresloucado embebedar-se de água salgada trazida pela maré-alta.



(décimo-segundo)

Quando conseguiram arrebatar seu corpo aos braços do mar, de suas mãos escorreu lento um fino fio de areia: o chão que lhe faltou para sentir-se da banda de cá: o mundo que lhe ofereci em vão.



(décimo-terceiro)

(... como era mesmo?... o tempo passou na janela/e só Carolina não viu(?))

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