É
necessário que se faça um breve esforço para imaginar duas situações: a
situação I e a situação II. Na situação I, há três personagens, assim nomeados,
Senhor A, Senhora B e Empregada C. A situação II conta também com três outros
personagens, a saber, Senhor D, Senhora E e Enteado F.
O
Senhor A era dono de uma sapataria, na qual era auxiliado pela Senhora B, com
quem tinha dois filhos.
Na
casa do Senhor A e da Senhora B, por acaso o mesmo espaço em que funcionava a
sapataria, também vivia a Empregada C, que recebia pagamento o suficiente para
também dormir no emprego, já que, entre outras coisas, basicamente cuidava dos
filhos do casal A + B.
Na
ausência da Senhora B, o Senhor A aproveitava para dispensar um tratamento
especial à Empregada C, bem distanciado do que pressupõe a rígida relação
patrão-empregado. Tal tratamento não era posto em questão pela Empregada C, ao
contrário, era por ela muito apreciado.
O
que o Senhor A não sabia é que as ausências da Senhora B, a pretexto de
compras, visitas a um determinado parente ou amiga, entre outras desculpas,
eram preenchidas, na realidade, por encontros furtivos em improváveis
recônditos com o Senhor D, dono de um próspero escritório de contabilidade.
Enquanto
a Senhora B e o Senhor D vivenciavam um romance bastante incomum para um casal
de meia idade provindo de famílias distintas e tradicionais daquela pequena
cidade, a Senhora E mantinha em sua própria residência, coincidentemente o
mesmo espaço em que funcionava o escritório de contabilidade do Senhor D, um
caso inaudito, próximo ao que ficou vulgarmente conhecido por incesto, com seu
Enteado F, dez anos mais moço que a madrasta. O que em qualquer história desse
gênero, envolvendo triângulos amorosos, poderia resultar em tragédia, essa teve
um epílogo diverso, culminando mesmo num raro final feliz, a julgar-se pela
remontagem das situações I e II iniciais, que, contradizendo qualquer lógica,
criou uma outra, a situação III, conforme a seguinte disposição:
a)
casamento do Senhor A com a Empregada C, de cujo relacionamento vingaram três
novos rebentos, o que implicou na assunção da Empregada C à Senhora C, condição
essa que lhe permitiu reivindicar a contratação de uma nova empregada.
b)
Casamento do Senhor D com a Senhora B, que, não abrindo mão da convivência com
os filhos que tivera com o Senhor A, reuniu a todos sob um novo teto, adquirido
às pressas pelo bem sucedido contabilista.
c)
Casamento da Senhora E com seu Enteado F, relação essa que não culminou no
nascimento de filhos, dada a infertilidade da Senhora E, que, inclusive, já
havia resolvido consigo mesma esse dissabor materno, sendo madrasta do
ex-enteando, agora seu digníssimo esposo. A Senhora E e o ex-Enteado,
alçado agora a Senhor F, ficaram morando no lar que era também o escritório de
contabilidade do Senhor D, de quem o Senhor F passou a ser, em razão de uma
ótima relação pai-e-filho, sócio.
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